terça-feira, 14 de setembro de 2010

Boa noite

O título do texto não tem nenhuma razão a não ser a falta de inspiração. Sim. Não tem nenhum propósito também. E sim, ler esse texto pode ser uma tremenda falta do que fazer.
Gostaria de poder atiçar o leitor dizendo que esse texto não parece, mas tem muito a dizer. Gostaria de dizer que por trás desse blá blá blá, sim, existe uma bela lição de moral e que sim, vai valer a pena ter lido.
Mas não se iluda caro leitor. Nada de lições. Nada de especial.
Um toque de humor, então?
Não, nada disso também.
Esse texto tem um único propósito: nenhum.

Então começo com um: Boa noite, leitor.

E não me interessa se agora são nove horas da manhã ou duas horas da tarde, só queria desejar ao leitor uma Boa noite.

Sabe o que é engraçado?

Banalizaram o boa noite. Sim. Banalizaram. As pessoas andam falando boa noite por aí e não sabem o que isso pode significar. Boa noite José. Boa noite Maria. Boa noite fulano... Boa noite virou "olá". E Boa Noite tem andado bem ofendido.

Boa noite virou cumprimento no elevador. Boa noite virou despedida. Boa noite tem substituído o "olá" e o "até logo", e veja bem, tem feito isso de maneira respeitosa.

Sim, porque boa noite virou sinal de respeito...
-Boa noite senhor.
-Boa noite senhora.

Boa noite é tão conhecido que antes do "The book is on the table" lá vem correndo o "Good Morning". E é good morning pra lá, good morning pra lá, e ninguém sabe o por quê do good morning.

Aliás, fico me perguntando quando foi que o Boa Noite surgiu... Boa noite responde: já tem tanto tempo de vida que nem mesmo se lembra.

Quem sabe não foi uma mãe que o pronunciou pela primeira vez? Uma mãe calorosa, cuidadosa, por certo, que sentada na beira da cama da filha rezava baixinho para que Deus a protegesse do mundo. Uma mãe que desejava ardentemente a felicidade da filha e que ao vê-la dormir sussurrava baixinho: Tenha uma boa noite, filha. E sussurrava baixinho todos os dias, todas as noites, pois a reafirmação dessas palavras a tornavam mais verdadeiras.

Quem sabe não tenha existido uma única fundadora. Ou fundador. Quem sabe foram milhares deles, que anomimamente não sabiam um dos outros. E de repente, Boa noite veio ao público. Se tornou famoso. Caiu na boca do povo. Literalmente...

Provavelmente foi descoberto em todas as línguas. Em todos os idiomas. Em todas as expressões. Penso que os animas também o conhecem.

Mas o boa noite tem sido mais que um boa noite. Tem sido um ponto final...
- Querido?
- Hum..
- Você não acha que devemos discutir a nossa relação?
- Hum...
- É querido. Lembra quando namorávamos, não era tão diferente?
- Uhummmm...
- Você não sente saudade?
- Uhum... sinto... claro. Querida? Boa noite.

Boa noite e papo encerrado! É mais ou menos assim... Uma forma educada de dizer olá. Uma forma educada de encerrar conversas.
Não conversamos com o porteiro, mas é claro que dizemos: Boa noite. E basta um boa noite para nos sentirmos bem, nosso papel está cumprido. Ora, se já demos boa noite, o que há de faltar?
Nos deparamos com vizinhos no elevador e lá está ele de novo: O boa noite. E é só. Um boa noite e somos seres devidamente educados.

A questão é: Por que boa noite? Existem derivações, é claro. Durma bem. Durma com os anjos, mas não há como negar: o boa noite está sempre ali. Faz parte de nós. Faz parte de todos os dias...

De todas as noites.

E se pecamos no seu mau uso, o que dói ainda mais, é a sua ausência.

É... um Boa noite pode ser mais importante do que muita gente imagina...

É uma necessidade humana. Exaustivamente necessário.

Quem dorme na solidão, sente sua falta. E ainda sim, lá está ele, o boa noite, no pensamento.

Boa noite. Boa noite. Boa noite.

O boa noite precede a noite. Tudo começa com um Bom dia, uma Boa tarde e de repente o sol se põe e lá está ele, novamente, impune, renascendo com a despedida do sol: O boa noite, pronto para uma nova jornada de trabalho.

Ele está por todos os lados. No escritório, na casa, no quarto. Boa noite definitivamente não pensa em se aposentar.
O mundo precisa dele. Não vive sem ele. Boa noite já faz parte do mundo.

O problema é que o mundo não tem entende qual é a sua parte no mundo.

E se esse texto não tinha propósito algum, agora, ele tem: A vontade, o desejo,... de desejar a você, caro leitor, um grande e rechonchudo, um sincero, de coração:

Boa noite.

Um comentário:

  1. Ju, de alguma forma, parece que o despropósito declarado, anunciado no início do texto, até que serviu para prender a atenção, porque eu li inteiro. Sabe, não vou dizer que tô sem sono, mesmo porque eu tô quebrado, mas tô há horas enrolando pra ir dormir, pensando nisso, naquilo... Já pensei em mudar de apartamento, já pensei em dividir apartamento, já pensei em calar essa vozinha inquieta aqui dentro com um bom livro para ler, já até escrevi mais um dos meus textos... Mas nada, nada disso funcionou. Engraçado, parece que agora, depois de ler isso aqui, me deu vontade de ir lá para a cama... Parece que eu tava precisando disso: de um banal, porém caro, "Boa noite!"

    Obrigado, Ju. Boa noite... e vá dormir!

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