sexta-feira, 29 de abril de 2011

88.000 formigas morrem na cadeia 004

A sociedade das Formigas Fareijeiras da região de Florianópolis, cadeia 004, sofreu o maior massacre dos últimos tempos nessa última quinta-feira. A temível Sombra Desconhecida (aquela que não se deve dizer o nome) atacou novamente: as vítimas foram esmagadas e queimadas com água quente. Até agora, 88.000 corpos já foram encontrados. A Entidade Central Farejeira (ECF) estima que o número triplique até o final do mês. O Corpo das Formigueiras Guerreiras (CFG) declarou que vai continuar com a busca por sobreviventes por tempo indeterminado. Até agora 47 formigas já foram resgatadas – 40 adultas e 7 filhotes.
O ataque aconteceu às 2h da manhã do dia 28 de abril, data que permeará para sempre na memória das poucas sobreviventes. A lendária SD começou a matança pelo lado leste do ninho e, segundo estatísticas da FEM (Formigas Excelentes em Matemática), 40.000 formigas foram esmagadas em segundos. As áreas oeste e sul foram atacadas logo em seguida. Dessa vez, as vítimas foram surpreendidas com jatos de água quente – muitas das formigas que sobreviveram ao calor, morreram afogadas. Na parte norte, também alagada, foram encontrados 12.000 corpos. De acordo com o laudo pericial da Formage, 10.000 operárias morreram intoxicadas ao serem atingidas por uma alta concentração de feromônios, proveniente das vítimas esmagadas. Outras 4.000 morreram em estado de choque e 2.000, por se jogarem da gaveta superior da cadeia na tentativa de se salvar.
Dolores Formigieri, uma das sobreviventes, tem dificuldades para lembrar de como tudo aconteceu: “Quando fecho os olhos pra dormir só consigo pensar naquela multidão correndo, berros, mortes. Nadei por quase 10cm, estava exausta, mas me sentia viva. Lembro de uma enorme sombra que se movimentava. Era enorme, não sei dizer, talvez uns 30cm e se movimentava ameaçadoramente. E quando ela chegava mais perto, vinha como um chumbo em cima das nossas cabeças e quando levantava, lá estavam os corpos”.
O soldado e formigueiro Carlos Pretume, inconformado com as mortes, lamenta que a tragédia tenha ocorrido em um momento histórico na cadeia 004: “Pela primeira vez em 5 anos, o ninho estava abastecido com comida suficiente para alimentar toda a comunidade formigueira por 4 estações. Eu e mais outro amigo é que descobrimos a fonte de fartura: um monte enorme de chocolate. Estávamos trabalhando no abastecimento a meses, todo dia era dia de festa lá no ninho. A rainha pensava até em chamar as formiquetes para dar um show por lá. Finalmente íamos descansar. Agora o que temos a fazer é chorar”.
“Chorar e rezar”, segundo Pedro Marrom, especialista em ESM (Estudos sobre Monstro). Marrom afirma que até agora os dados sobre a SD são muito imprecisos, não há registro sobre o tamanho exato do Monstro, tampouco sobre as razões para os seus ataques surpresas. Os estudos mais recentes, porém, garantem que a aglomeração das formigas e a exposição em locais claros sãos os principais fatores de risco. Para a a rainha primordial do ninho central, “O ideal é que as operárias se revezem em turnos separados para evitar a exposição em grupo e que a caça por comida seja realizada em superfícies escuras, onde as fareijeiras não são vistas facilmente”. Outra medida preventiva que está sendo estudada pela rainha é a implantação de aulas de natação em todas as cadeias. “Não quero mais nenhuma fareijeira morrendo afogada”, acrescenta com voz firme.
Apesar da enorme tragédia, de acordo com a Delegacia Central Fórmigas (DCF), o estrago poderia ter sido ainda mais assustador. O delegado João Formigues afirma que a tragédia teria sido 10 vezes pior caso tivesse ocorrido durante o horário de trabalho das fareijeiras, entre 10h e 22h: “Temos sorte que um terço da sociedade estava protegida no ninho e de que as soldadas mais fortes [portadoras do ferrão enriquecido] não estavam trabalhando na hora do massacre”. Na sequência, o delegado destaca outro ponto positivo: “Também temos que comemorar pelo berçário, que não foi atingido. Todas as larvas bebês passam bem”.
A rainha 004 pediu para que as formigas sobreviventes sejam fortes nesse momento e que não se esqueçam dos filhotes. “Não podemos parar, 14.000 larvas estão para nascer nessa semana e precisam de alimento. Em breve, vou elaborar uma nova estratégia de caça que preze a segurança da cadeia”. A rainha declarou estado de calamidade pública e anunciou que os corpos serão enterrados na zona oeste do ninho, na sexta-feira. O Ministério Formigueiro (MF) pede para que os familiares não levem doces ao local, em respeito às vítimas.
Este foi o 38° ataque da SD em toda a população das formigas que se tem notícia. Os estragos totalizados até agora se enquadram na categoria: SD – Mediana. Na cadeia 004, este foi o maior massacre já registrado. O segundo maior aconteceu em setembro de 2006 e deixou 40.000 mortes e 34 feridos.

Observação: A inspiração veio quando, enfurecida com a quantidade de formigas que atacaram o meu ovo de chocolate, comecei a matar todas elas com tapas. Os números e a parte da água fervente são fictícios, embora já tenha utilizado o método em outra ocasião.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deixa pra lá

- Alô?
- Oi, quem é?
- Você liga pra mim e vem perguntar pra mim quem eu sou?
- É, fiquei curioso. Algum problema?
- Nãããããoo... Nenhum problema. Você liga pra um número qualquer, não se identifica, e fica curioso pra saber quem eu sou. Nenhum problema.
- Exatamente...
- Olha, você me desculpa mas eu não tenho tempo pra besteiras.
- Não desliga. Espera...

Silêncio

- Viu? Eu sabia. Você não tem coragem!
- Coragem?
- É.
- Coragem pra quê?
- Pra desligar. Você gostou de mim.
- Ah, mas essa é boa!
- É a verdade.
- Olha, me desculpa, mas agora é pra valer. Vou desligar.
- Tudo bem, você que sabe.
- Isso mesmo, o telefone é meu e estou DES-LI-GAN..
- VIU! Você não quer desligar!
- Aé? Prova, então.
- Simples, você ainda não desligou. (Risos)
- Ahhhh... Simplesmente porque não sou mal educada e não gosto de desligar o telefone na cara dos outros.
- Existe outra razão...
- Qual?
- É simples: você dividiu as sílabas da palavra desligando.
- E...?
- Quis dar tempo para eu te convencer a não desligar...
- Há, essa foi demais!!! Eu só enfatizei a palavra desligando para deixar bem claro a minha vontade.
- Isso é mentira.
- Olha aqui, você liga pra minha casa, pergunta quem eu sou, faz eu perder o meu tempo e ainda por cima me chama de mentirosa? Pra mim já chega!
- Tudo bem, então desliga o telefone...
- Vou desligar mesmo! Metido.

Silêncio

- Tá vendo?
- O quê?
- Você só ameaça e não cumpre nada.
- Aé? E como você se sentiria se eu desligasse o telefone agora, nesse exato segundo? Em??? Quero ver se você ia continuar com essa bola toda!!!
- Você não faria isso...
- Aé? E como que você pode ter tanta certeza?
- Não tenho.
- Então não fala do que você não sabe!!!
- Sabe, acho que fiz bem em ligar...
- Ai meu Deus, lá vem mais uma... Fala, fala, fez bem por quê?
- Sei lá, você parece meio nervosa. Acho que tava precisando falar com alguém...
- Ah não. Ahhhh não. Primeiro mentirosa, agora nervosinha? Olha aqui, eu vou rastrear o seu telefone e aí você vai ver s..
- NÃO VAI NÃO.
- Ah não? E quem é que vai me impedir?
- Ninguém. Você não vai porque não quer.
- Não quero? (Risos)
- Não. Você gostou de mim.
- (Risos) Ai ai, quanta besteira, meu Deus do céu!
- É sim, gostou sim.
- Vem cá, deu pra ser humorista agora?
- Bem que eu queria, mas a vida me fez escritor.Aliás, me desculpe a indelicadeza. Paulo. Me chamo Paulo.
- Indelicadeza nenhuma. Não perguntei nada.
- E o seu?
- Ann?
- O seu nome, qual é?
- Não adianta, não falo com estranhos.
- Hum, ok... Acho que não me apresentei direito.
- Nem precisa.
- Hum... deixa eu ver. Sou moreno. Tenho olhos verdes, 1.80 de altura e vou para academia 5 vezes por semana. Nas horas vagas, eu escrevo...
- Ninguém perguntou...
- Ai tá bom, tá bom, eu sabia que não ia colar... Não tenho olhos verdes e não vou pra academia. Quer dizer, academia de letras, serve?

Silêncio.

- Não adianta trancar, eu escutei. Você tava rindo.
- Há, você sinceramente acha que eu rir de uma piada tão idiota?
- Pra ser sincero, achei que o seu humor era um pouquinho mais refinado...
- Engraçado!
- Nem tanto...
- Percebi.

Silêncio

- Bom, também não é tão ruim assim... A parte da altura é verdade e eu dou umas corridinhas de vez em quando, serve?
- Depende.
- Do quê?
- Quantas corridinhas?
- Ah, 2 vezes por semana.
- É, serve, serve.
- E você?
- Eu, o quê?
- Quantas corridinhas por semana?
- Umas 2, 3... Ei, escuta aqui, você acha que eu sou burra de sair contando por aí as minhas coisas?
- É pra ser sincero?
- Tanto faz.
- Ah, tem jeitinho que sim.
- Peraí que vou anotar....

Silêncio.

- Anotar o quê?
- As razões pra te processar. Men-ti- rosa. Nerrrr.. vosa e qual foi o último mesmo? Ah, burra. Prontinho! Mas alguma observação?
- Hummm, depende, por enquanto fico só com essas...
- Ok. Então, vou desligar.
- Por quê?
- Porque eu cansei. Tenho mais o que fazer!
- Aé? O quê, por exemplo?
- Olha aqui, diferente de você que não tem mais nada pra fazer, euzinha aqui tenho milhões de coisas pra resolver! Tenho que tomar banho, fazer dois fichamentos, comer alguma coisa e ainda tenho que estudar todo o código civil pra amanhã. Amanhã, tá entendendo? E to aqui perdendo o meu tempo!!!
- Hummmmmmm, quer dizer que a senhorita estuda direito...
- Isso não é da sua conta.
- Na verdade é mais do que você imagina.
- Tô ficando com medo...
- Não precisa.
- Vou desligar.
- Tudo bem.
- Mas antes me diz, por que tudo isso. Em?
- Queria saber um pouco mais sobre a minha futura mulher.
- Futura mulher?
- Isso mesmo.
- Agora você passou dos limites...
- Nem tanto. Você quer ter 1 ou 2 filhos?
- 5!!!!
- Perfeito. Casa ou apartamento?
- Barraca.
- Excelente. Cachorro?
- Pit bull.
- Sempre quis. Praia ou campo?
- Montanha.
- Viu? É o destino.
- Escuta aqui, eu menti pra você, tá entendendo? Quero ter 2 filhos. Doooois, e não cinco. Além do mais eu morro de medo de morar em casa e pro seu governo eu detesto cachorros!!!
- Eu sei... Você não faz o tipo que abriria o jogo assim de primeira.
- Que tipo que eu faço então?
- O meu tipo.
- Você nem sabe nada sobre mim...
- Temos tempo para isso.
- Olha, você está me assustando.
- É o amor. Faz o coração da gente bater mais rápido.
- Pode ser... Vem cá, é isso mesmo?
- O quê?
- Isso, que voce falou.
- O quê?
- Essa história de amor de mulher da sua vida.
- A mais pura verdade.
= E essa história de que também quer ter 2 filhos, morar em apartamento e detesta cachorros?
- A mais pura verdade.
- Huuuum... Você ronca?
- Nunquinha.
- Manda flores?
- Sempre.
- Abre a porta do carro?
- Se for pra você...
- Corre mesmo?
- Duas vezes por semana.
- Tem barriguinha?
- Quase nenhuma.
- E, você é o que mesmo?
- Escritor.
- Hum. Deixa pra próxima, vou desligar.